quinta-feira, 25 de março de 2010

Ploszaj escreve a Fish. Em resposta a Natalia.

Com os olhos semicerrados, ainda tomado pelo sono que me restava no final daquela manhã, me dei conta do envelope rente à porta. Calmamente, abri.

Fountainebleaut, 25 de dezembro de 1884.


Tresmalhado Fish,

Em resposta a sua carta, assim o fiz.
Li em desprestígio ao mesmo lusco-fusco que escrevestes. Mas, desafortunadamente, eu ando meio desarrazoado e disléxico. Sem tardança, minha apreciação não poderias ser tomada de medida. Sabendo disso, a coesão diante à história me fugiu, pois ando mais matemático que nunca - e um tanto fastidioso com minha inevitável singeleza.
Meu ego à parte, gostei de algumas figuras, como "folhear qualquer coisa enquanto via o sangue saindo de ti" - embora tenha entendido isto como alegoria para "via você falar amenidades". Livrando-me do conhecimento sobre o autor, ficou ainda melhor. (!) Ah, não adianta.
O ego vem comigo. Maldito.
O ponto bom é que seu texto me recordou quão ruim eu sou. Não só pelo contexto em que me confronto com ele, o mesmo também me belisca. Chama-me de covarde, incapaz de matar por meus interesses. Amebas não são contemporâneas, nem em formigueiro.
Maldito! Odeio-te, e tudo que lhe associo. Mas merda, tais muito bem - em “sinergiazinha” com o mundo. Invejo-te daqui, do fosso da geekisse.
E não me venha com filantropia, resgate é coisa do medievalismo.

Por fim, lamento que eu não possa ter contribuído para exacerbar sua recepção de autoridade, porém tenho certeza que acharás bons interlocutores nesse caminho percorrido. Sou obsoleto não somente por depreender vagamente a exposição de causas do jantar e, ainda assim, ser mais adepto de comida congelada. Mas, não obstante, por não compreender a motivação da pequena menina. Também porque não temos uma maldita máquina no texto e eu não consigo presumir uma vida destarte. Argh! Odeio-te.
(Sabes ler esses "Odeio-te" e "Malditos", sim? Ele deve soar lisonjeiro).

Alegra-me que o meu egocentrismo tenha se ausentado, nem que se fosse por poucos pontos e parágrafos. Presumo que este não lhe atrapalhe como faz a pessoa que vos fala.
O meu ego foi somente o que lhe devolvi quando rogou para que eu agisse mutuamente com sua expressão. Não deixe as lisonjas atenuar o fato de que pela minha loucura não pude apreciar objetivamente, e que minha réplica não agrega nada a sua tentativa de interagir com o mundo. As lisonjas nem o “estilismo”.
Eu só falo assim porque é divertido.

Agora vou ao almoço, alimentar o id. Buenas tardes e boa sorte com suas (im)expressões.
Invejo-te novamente.
"Arrevuá".

Albert Ploszaj


Estupefato, coloquei o papel sobre o criado-mudo. No mesmo instante, inventei alguma coragem e fui dar uma volta no parque, aproveitando que o sol ainda pungia sobre o céu quase cinzento. A primavera padecia sobre o inverno. Demorado.
Ploszaj nunca mais aparecera nos arredores.
Vez em quando ainda me pego pensando nele.

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