segunda-feira, 22 de março de 2010

Carta à amada Natalia.

Steamer Tacoma, 22 de março de 1884.

Doce menina. Somente tu sabes o quanto me fazes falta nas noites insistentes dessa cidade nada serena.
Dói ao relembrar aquela noite de verão em que antes se fez lusco-fusco e fomos, aos passos, em direção àquela casa de lajes brancas, petiscos infortúnios e beijos insípidos que jamais experimentarei. Não me esqueço de como aquele intrujão lhe invadia. Nunca pude conter-me. Estaria em seu lugar com a absoluta certeza.
Contentei-me em folhear qualquer coisa enquanto via o sangue saindo de ti.
Não posso comparar a textura de uma carne suína a sua. Não é tão doce suficiente.

Em uma quinta-feira de 1879, fui chamado para levar-te a um passeio de bom grado em uma casa, inventada, de uma amiga; sob o pretexto de estar ao seu lado. Tu disseste que sim, que poderias me acompanhar.
Levei um pote de queijo com morangos e nos sentamos à grama, perto de uma casa vazia, como o nome fictício de Westchester, que, por algum ponto de vista, parecia-me abandonada.
Lanchamos.
Aos poucos, avistando tantas árvores, sentou em meu colo e beijou-me. Pois então, decidi-me a comê-la.
A coloquei de lado, sob as flores frescas daquele campo e pedi para esperar enquanto adentraria aquela casa abandonada, a te esperar. Despi-me. E quando me senti pronto, chamei-lhe com um sorriso alvo pela janela, que viesse até meus abraços fraternos. Sei que sente falta de seu pai.
Subi as escadas ocas, e lhe esperei, deitado sobre um colchão que se esfacelava, nu. Enquanto seus passos se aproximavam, esperei atento para que pudesse rapidamente lhe apanhar. Quando me viste nu, começou a chorar, deu as costas, pronta a descer a escadaria apressada. Agarrei seus braços enquanto me estapeava, esbravejando-se, mordia e arranhava, a ponto de poder gritar.
“Não contarias a ninguém, contarias?”... sussurrava em seu ouvido enquanto aos poucos seus olhos se fechavam pelo sufocamento.
Primeiro te despi. E com muita cautela, cortei-lhe aos pedaços. Diminutos.
Cozinhei e comi. Como era doce e tenro seu pequeno rabo. Levou-me nove dias para comer todo o corpo. Não a forniquei. Tu morreste virgem.


O sangue que jorrava nunca me recordou a ejaculação. Matei porque não queria ninguém mais ao seu lado. Queria eu ter feito tudo isso com ele. Guardaria seus pedaços para lembrar-me de quantas vezes poderia ter sido o passado mais uma influência nas noites tórridas... sem você.
Fazes falta por aqui, pequena menina. Sabes o quanto fazes falta aqui comigo.
Nunca mais voltei a West
chester.
A solidão me foi o brinde.

Com amor, Benjamin Fish

2 comentários:

  1. Nunca mais sentirei a brisa do amanhecer de um dia quente sem pensar (ou desejar) mesmo que no profundo inconsciente, sem relembrar esta cena. O amor que muitos de nós jamais saberá o que é! Magnifique!!!

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