sexta-feira, 11 de setembro de 2009

If I had a heart

“Ele não sabia explicar aqueles sorrisos sobrepostos enquanto por apatia ficava sentado ali tomando algo que não lhe alterava. Se sentia importunado por todas ocasiões, em todos os jantares. Não sabia se comportar, em como segurar tantas taças, cumprimentar tantas pessoas e aprender salientar sentimentos sem significância. Chefes de departamento, advogados, atores, amigos, conhecidos, vizinhos indecorosos e todos os “olás” prescritos em tantos roteiros enquanto ele ficava ali apenas por admirar seu olhar de aprovação.
Fugia como criança e corria para todas as janelas ou vidraças que acomodassem seu acanhamento. E quando se dava por conta, ele estava ausente, sem deixar indício de tantas janelas que ele nunca descobriu ele mesmo estar. Nas outras noites, dava-se ao luxo de mirar todos os olhos que assim o desejava. Desembocava em todas as festas ostentosas, sempre com as mesmas roupas de cores fortes. Cores que julgava serem iguais aos legumes que preparava ao final do dia depois de um trabalho mesquinho, que não dava metade do que sempre desejou possuir. Cambaleava em todos os braços que padecia ao seu beijo tão suave ou até mesmo clichê. Ia a motéis, freqüentava casas desconhecidas e caía aos braços mais fortes. E assim surgia durante as noites uma nostalgia que vinha sem pressa e tomava conta. Ele não chorava".

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